Blues, Beat & Beer
sábado, setembro 10, 2005
  Carl Gages, em 1984

Carl Gages era um homem simples e sem muita pretensão em em relação a sua vida. Apesar de seus quase trinta anos, seu corpo magro e curvado, as rugas no rosto e sua roupa azul de trabalho sempre bastante empoeirada e suja, davam-lhe a impressão de no mínimo 45 anos.

Era difícil para Carl precisar há quantos anos ele estava trabalhando no Ministério da Paz, mas ele poderia afirmar que nunca tivera outro emprego. Carl trabalhava no setor de reconstrução de Londres. O SetCon era responsável por reconstruir áreas atingidas por mísseis lançados por nações em guerra com a Oceania.

Cada manhã, Carl se levantava as oito horas e acompanhava pela teletela as diretivas que deveria seguir na realização de seu trabalho no MinPaz. Apesar de não serem muitas, as diretivas não deveriam jamais serem escritas ou memorizadas. Além disso, eram repassadas todas as manhãs. Como de costume, ele se levanta e escuta as diretivas vindas da teletela, repetindo uma a uma após a voz metálica.

1. Aguardar;
2. Movimentar normalmente até área de sinistro;
3. Prioridade de tarefas: Teletela, Indivíduos e Reconstrução de habitações;
4. Reportar resultados.

As diretivas eram simples e deviam ser seguidas como leis do ministério. Ir até o local, restaurar o sistema essencial para o funcionamento das teletelas, liberar vias de escombros e após, verificar se pessoas deveriam ser encaminhadas ao socorro. Por fim, os imóveis eram restaurados.

Ao sair de sua residência, Carl sempre se dirigia diretamente ao Ministério da paz e aguardava um novo ataque. Seguia sempre o mesmo caminho até o trabalho, seguindo a orientação que sempre lhe foi passada desde criança. Quando chegava no Setor de Reconstrução, Carl ficava sentado numa sala cheia de bancos, ao lado de outras pessoas que ele jamais conversou. Esperava que a voz metálica de uma teletela lhe ordenasse para partir em direção da região atingida pelo míssil.

As explosões eram freqüentes. No mínimo uma vez por dia era preciso se deslocar até uma região atingida. Restaurar as teletelas, encaminhas as pessoas ao socorro e chamar o grupo de restauração dos imóveis. Às vezes Carl passava por alguma área que tinha sido atingida por mísseis alguns dias antes. Em certas ocasiões as habitações eram rapidamente restauradas, outras demoravam meses e certos prédios ou grandes condomínios nunca eram totalmente restaurados.

Fazia já uma hora que Carl estava na sala, quando veio a notícia para se deslocar até a Cannon Street, onde uma explosão acabava de ter acontecido. Vinte minutos após o chamado ele estava no local e começava a restaurar o sistema de teletela que havia sido totalmente destruído. O acesso ao local foi totalmente fechado para evitar que outras pessoas se aproximassem. Em pouco mais de uma hora o sistema de teletela já estava em funcionamento. As pessoas que necessitavam de cuidados já tinham sido levadas e toda a área de movimentação já estava desobstruída. Tudo voltava ao normal como se nada tivesse acontecido. Carl volta ao Ministério da Paz e relata os resultados para a teletela.

- Relatar dados do sinistro, dizia Carl para um buraco na parede junto a teletela.
- Iniciar procedimento, respondia a voz saindo da teletela.
- Chegada ao local às 9:36.
- Ok, prossiga.
- Teletelas 16.532, 16.533 e 16.535 restauradas e funcionando.
- Aguarde verificação...ok, prossiga.
- Cannon street perfeitamente desobstruída.
- Aguarde verificação..

Carl pensa na verificação imediata das informações que ele vem de passar para a teletela. Algum membro do partido interno deveria estar verificando neste momento se as ruas estavam mesmo em perfeito estado. Após alguns segundos, a voz metálica continuava.

- Verificação concluída, prossiga.
- Número de pessoas feridas, 46. Número de mortos, 3.
- Ok. Fim de transmissão.

Carl volta para a rotina na sala do SetCon. Espera que uma nova mensagem enviada pela teletela lhe diga oque fazer. Naquele dia, nenhuma outra tarefa lhe seria solicitada.

Apesar de ficar muito tempo a espera de tarefas, Carl jamais se perguntou o porquê de seu trabalho, se aquilo era bom ou mesmo se era isso que ele queria fazer pelo resto de sua vida.
 
Comments:
gostei, é simples, despretensioso (eu espero).

O problema é só aquela comparação que fica entre o que tu está escrevendo e o que foi escrito pelo orwell. Mas tá legal mesmo.
 
Então, eu Menina Bandini me libertei do vício virtual e cometi OrkutSuicídio...fica aqui meu Msn pra contato: meninabandini@hotmail.com
Beijos.
 
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