A Velha Dama de Paris

Eu imagino que
Fante se sentiu, ao menos uma vez na vida, como sua personagem de
Minha Primeira Viagem à Paris. Eu posso quase afirmar que, com toda a emoção e sentimento que sempre expressou em suas novelas, ele já lastimou algo, assim como aquela velha mulher. Eu tenho certeza disso. Ainda mais, Fante precisa ter tido ao menos em algum momento da sua vida, mesmo que muito brevemente, a experiência do amargo sentimento daquela mulher jogada em um cruzamento de Paris.
Pois eu já me senti assim. Da mesma forma que aquela mulher horrenda como um pesadelo, grisalha e triste como o mais forte inverno. Aquela velha como a cidade de Paris, que passava o dia como um amontoado de ossos. Abandonada como um cão velho com as horas contadas. Imóvel como a Notre Dame.
Talvez isso de alguma forma revolte as pessoas. Mesmo que seja pela impotência de não poder ajudar. Mas eu entendo a velha dama e faria a mesma coisa. Talvez alguns jogariam moedas e outros nem olhariam. Alguns pensariam em ajudar, mas no mesmo instante outra coisa mais importante lhes passaria pela cabeça.
Mas se por acaso alguma pessoa de passagem fosse parar e perguntar o que eu precisava ou simplesmente por que eu estava ali jogado como um monte de trapos velhos, eu responderia calmamente assim como a velha mulher fez: "
A única coisa que eu desejo agora é ficar só, com minha dor".